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domingo, 29 de junho de 2008

Geopolítica do Mediterrâneo europeu


por Nelson Bacic Olic (Saiba + sobre o autor e o que ele diz)


O Mediterrâneo, classificado como um mar quase fechado, banha três continentes: Europa, Ásia e África. Possui uma ligação natural com o Oceano Atlântico através do estreito de Gibraltar e, outra artificial, que o conecta com o Mar Vermelho e Oceano Índico através do canal de Suez. Os estreitos de Bósforo e Dardanelos o colocam em contato com o Mar Negro.


O Mediterrâneo apresenta grandes profundidades e é emoldurado por cadeias montanhosas de formação geológica recente, como os Pireneus (entre Espanha e França), Alpes (sudeste da França), Apeninos (Itália) e cadeia do Atlas (noroeste da África). A existência de inúmeras penínsulas (Ibérica, Itálica, Balcânica, do Peloponeso) tornam a costa mediterrânea bastante recortada, condição geográfica que foi aproveitada para instalação de portos como os de Barcelona (Espanha), Marselha (França), Gênova (Itália) e Pireu (Grécia).


Dezoito são os Estados que possuem terras banhadas pelo mar Mediterrâneo. Eles apresentam grandes diferenças no que se refere ao tamanho, evolução histórica e nível de desenvolvimento.


Por exemplo, há países como a Espanha, a Itália e a Grécia que são membros da União Européia. Há aqueles que fazem parte da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como a Turquia e a França. Também são “mediterrâneos” países árabes-muçulmanos como a Síria, Egito, Líbia, Marrocos, Argélia e Tunísia, assim como aqueles que até recentemente adotavam o sistema socialista como a Albânia e a Croácia. Existem ainda Malta e Chipre, países insulares que só conseguiram suas independências na década de 1960 e, por fim Israel, um “corpo estranho” em meio ao “mar” árabe-muçulmano que é o Mediterrâneo Oriental.


Praticamente todos os países europeus que margeiam a bacia do Mediterrâneo apresentam ou apresentaram num passado recente, tensões e conflitos internos ou problemas no relacionamento com nações vizinhas. A Espanha, por exemplo, se defronta há décadas com problemas relacionados ao separatismo basco. Este povo é culturalmente bem distinto dos espanhóis, especialmente no que diz respeito à língua. Os bascos lutam pela existência de uma nação independente que se localizaria junto à porção norte da região dos Pireneus, se estendendo tanto pelo território espanhol (quatro províncias) quanto pelo francês (três províncias).


O principal grupo separatista basco, conhecido pela sigla ETA (Pátria Basca e Liberdade), freqüentemente tem cometido atentados (cada vez mais repudiados pela própria população basca), contra órgãos e autoridades do governo espanhol. No final da década de 1970, com a volta da democracia à Espanha após um longo período ditatorial iniciado ao final dos anos 1930, o governo espanhol concedeu maior autonomia ao país basco. Boa parte da população basca, aparentemente, se acomodou a esta nova situação.


A França, por outro lado, vem assistindo o aumento das ações de grupos separatistas que pretendem tornar independente a ilha de Córsega, há séculos sob domínio francês. Além disso, na França "continental", têm se avolumado as tensões entre franceses e imigrantes, especialmente aqueles oriundos do Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia), países de antiga colonização francesa. Por conta desta situação, partidos políticos de extrema-direita, com discursos xenófobos e racistas, têm visto crescer seu número de eleitores.


Na Itália, a persistência do tradicional desequilíbrio regional entre as regiões norte e sul do país, vem fazendo crescer os movimentos que visam separar a desenvolvida e industrializada região setentrional, da pobre e subdesenvolvida área sul, o Mezzogiorno. Os separatistas agrupados na Liga Norte, chegaram inclusive a proclamar simbolicamente, em setembro de 1996, a independência da Padânia (denominação genérica dada às áreas drenadas pelo rio Pó).
Cerca de 85% do litoral da antiga Iugoslávia socialista era composto por terras pertencentes à Croácia e Montenegro, territórios banhados pelo Adriático, um dos mares que formam o Mediterrâneo. Desde 1991, quando o Estado iugoslavo se desintegrou, a Croácia tornou-se um país independente, enquanto Montenegro (juntamente com a Sérvia) continuou a fazer parte do que “sobrou” do antigo país, a “nova” Iugoslávia. Tanto a Croácia como a “nova” Iugoslávia estiveram envolvidas na sangrenta guerra da Bósnia (1992/95). A existência de minorias nacionais de origem sérvia na Bósnia e na Croácia e de minorias croatas na Bósnia, se constituiu na razão principal desse trágico conflito que fez cerca de 250 mil vítimas fatais.


A Albânia, outro país banhado pelo Adriático, tem se envolvido, ainda que de forma discreta, no apoio a reivindicações separatistas de albaneses étnicos existentes em áreas da Sérvia (majoritários na província de Kosovo) e na Macedônia, outra das repúblicas que fazia parte da ex-Iugoslávia. Para muitos analistas internacionais as tensões geopolíticas da região de Kosovo encerram um potencial de conflito que, dependendo de sua evolução, poderá se alastrar por toda a Península Balcânica. Grécia e Turquia são outros dois Estados banhados pelo Mediterrâneo, através dos mares Egeu e Jônico. Apesar de serem membros da OTAN, ambos têm uma tradicional rivalidade fato que, nas últimas décadas, tem colocado os dois países em “pé-de-guerra” em várias ocasiões. Essa situação é resultado do histórico antagonismo entre gregos (cristãos ortodoxos) e turcos (muçulmanos), mas também de duas outras questões: as disputas pela soberania sobre áreas do mar Egeu, aparentemente ricas em petróleo na plataforma continental e também por conta de tensões intercomunitárias que ocorrem em Chipre.


Estado insular do Mediterrâneo oriental, Chipre é uma ex-colônia britânica que ficou independente em 1960 e que tem uma população composta fundamentalmente por dois grupos étnico-nacionais. Um pouco mais de 60% de seus habitantes é formado por indivíduos de origem grega (os greco-cipriotas) e o restante por turco-cipriotas. As rivalidades entre essas duas comunidades, em várias ocasiões desde a década de 1970, quase arrastaram a Grécia e Turquia para um conflito generalizado. Desde 1974, Chipre se encontra dividido de fato em duas áreas distintas: a parte norte, sob o domínio turco-cipriota e a porção meridional, controlada pelos greco-cipriotas.


Todavia, não se deve esquecer que essa região sempre foi uma encruzilhada de rotas e de influências culturais, onde floresceram importantes civilizações, cujo legado se disseminou para muito além das áreas banhadas por esse mar que, na Antigüidade, chegou a ser denominado de "Mare Nostrum" pelos romanos.


(Fonte: Disponível em: <http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=152&ed=4>. Acesso em: 25 jun. 2008.)

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